segunda-feira, 16 de abril de 2012

segunda-feira

Poderia me sentir melhor
se um bando de desocupados do bar da esquina
nao colocassem esses 'cantos de chifrudos'
no volume mais estridente possível

parecem que querem gritar sua boemia
e seus desamores para o mundo todo
que em plena segunda feira a tarde
trabalha em meio a desgostos e desgasto.

Eu aqui, presa nesse computador
Enquanto bebados se abraçam...
Choram e sorriem
Conversam, gritam, dançam
e o principal prosseguem bebendo.

Penso em chegar até ali,
e dar-lhes bofetadas na cara,
para que procurassem ocupação.

Mas que egoismo!
Aquele veneno na cabeça que diz
'ninguém pode ser feliz se você não o for'

Situações e situações
historias e estorias
cada um com a sua...
e se,
no lugar deles, estivesse eu no mesmo ócio
da aposentadoria e da liberdade ?!

Barrigudos e bigodudos!
Ainda que sentindo na alteridade,
uma alquimia de dó, pena, e pesar do mundo...

Fico irritada com essas musicas
estourando meus tímpanos.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

O Pulso que Repulsa

E esses dias que a repulsão 
a mim mesma
torna grande
os meus medos,
anseios
raivas
e perdas.

Fico vagando nos sonhos
que sonhei
na noite que passou.

Ativo o piloto automático
escrevo sem pensar
e até mesmo penso sem pensar.
Viajo sem querer
me perco,
lentamente, sem querer

Vago nos questionamentos vagos.
E os " e se ...?"
me sufocam
Essas incertezas incertas...
essas mentiras verdadeiras
e essas verdades relativas

Inferno da alma
inferno da vida
inferno de vida
Inferno dos infernos!
todas essas psicoses diabólicas
essa insana
hiperatividade do próprio pensamento.

Admitir-se animal
Admitir-se nao-pensante
Reconhecer-se insignificante
e sentir a repulsão do ser
de ser
de agir como uma barata
de correr como um rato
de incomodar e causar ânsia.

sentir os sapatos daquele
superior esmagando
sua ultima esperança de vida.

Anular-se,
meu ultimo pensamento.

quarta-feira, 28 de março de 2012

Visita

Tem dias que a poesia me visita
e parece que o meu mundo transpira,
nesse dia
apenas poesia e palavras

Me sinto até mal
em querer delirar na rima das desgraças
e vestir uma túnica tecida em seda,
aparentar ser sábia
e transcrever meus pensamentos confusos
Nada é alem do óbvio

Mas obrigada,
poesia
pela visita inesperada
rendeu-me alguns trabalhos
e tomou um tempo que eu tinha ócio

Se a teoria da relatividade explicar
que quando uma coisa é boa
o tempo passa rápido como um beija-flor
desejo que volte mais vezes!

Silencio

Silencio 

assassino
cruel
oportuno
inquieto
tranquilo
apaixonado
raivoso
divino
desesperado

Fala muito
sugere o que o intimo nao diz
Fala nada
quado o intimo nao tem nada a dizer

se entrega
me entrega
te entrega

Oculta
mente
ludibria
Finge
Disfarça

grita
berra
chora
sorri
sussurra

Acalma
alivia
dilacera
sufoca
suplica



agora diga-me
qual é o seu silencio?

Pensamentos sem pensar...

Tantas culpas e tantos culpados
tantas putas e tantos filhos-da-puta
Que o mundo continua girando,
e seguindo seu curso
sem ter ao menos o trabalho de fazer valer 
a lei da ação e reação.
E tantas justificativas na televisão,
e nao tao longe,
quantas mentiras e utopias
nao sussurram docilmente no seu ouvido?!
Dias se fazem noites,
com a mesma facilidade
que noites se fazem dias.
E a única lei que predomina
é a gravidade
Com os seios cada vez menos firmes
e a pele cada vez mais flácida...
Mas, o principio da amizade...
é tão lindo e sincero
Que aquele que ora limpa seu sangue
outrora arranca-lhe as vísceras
Te levantando ou te afogando,
no extremismo do calor do sentido
de qualquer forma ainda lhe estima.
E tudo seria tão menos traumatizante
se nao esperássemos a vida toda pela morte
e não matássemos tanto o plasma da vida...
A vida de uma alegria
a vida de uma tristeza
a vida de um olhar
ou de uma lágrima
E quantas vidas em uma...
E quantas mortes em vida...

A tristeza de acordar lúcida...

As vezes fico pensando, que tristeza intensa desperdiçar tantas horas da nossa vida, trabalhando...
Tanta coisa pra gente fazer por aí... e simplesmente perdemos 90% do nosso dia sendo escravos do sistema, os outros 10% dormindo, se alimentando, sendo escravos do próprio corpo...
Triste de saber, que vamos morrer... e toda essa dedicação e abdicação serviu pra nada! Serviu somente pra nos afastar da nossa familia, dos nossos amigos, dos nossos animais, e principalmente do nosso próprio 'eu-interno'.
Serviu pra tirar de nós a essência, do literal,"ser humano", e plantar o "ser robô".

Muito triste, acordar em um dia lindo como esse, animada... e ter que passar 8 horas trancada e acorrentada ao computador... Sendo cidadã, contribuindo para a sociedade, pagando impostos, servindo e eternamente servindo um sistema falido, autofágico e infinitamente insustentável.

E os valores decaem, e os sentimentos, as emoções, o tato e o olfato também... Fica o superficial, aquele "ser raso e vazio"... sentindo e fazendo sentir muito menos do que o seu potencial suporta...
O perfume da rosa, a cor dos ipês floridos, o canto dos pássaros do mês de setembro e todas as curiosidades e magnificências da natureza, passam a ser obviedades... 
E a ganancia pinta de preto, coloca código de barras e as vezes, até taca fogo em tudo o resto.


Hoje queria tanto o dia de folga..

quinta-feira, 8 de março de 2012

Noite de grandes divagações

Sentada na janela deste apartamento
Olhando para cada luz que meus olhos podem ver
Imaginando
que cada luz alimenta algo muito maior que eu possa compreender
Alimentam vidas
Alimentam histórias
Acalentam corações despedaçados
e por vezes,
Celembram amor, sexo
e, tudo que o libido e as emoçoes são capazes de fazer.
Colocam fim aos medos
-nem sempre, mas-
Destroem alguma escuridão

Enquanto penso e observo
Viajo
Dou-me conta do vazio que nesta hora se faz presente
Finjo não saber o motivo
e gosto mesmo de tentar me enganar
Fazem DEZ minutos que saístes por aquela porta
e descestes as escadas

DEZ minutos, que temo ser menos
E cá já me vejo
Neurótica como louca
pondo-me a escrever
me fazendo escrava
de uma válvula de escape.
Não tenho cigarros, e tampouco bebida
Mas tenho um papel amassado e uma caneta 'marketinizada'.

Ah, anjo de luz
Há tão pouco chegastes
Aumentastes minha inquietude
e me levaste ao lago sereno
Aos poucos,
sinto que sutilmente
me afogas
Acho que deveria me livrar de voce
mas como um câncer tomou uma proporção muito grande em mim

Torno a olhar essas luzes
E o cara que passa
solitário como um cao infeliz na calçada
Quê será que passa naquela mente?
Onde será o seu destino final?
Será um machucado da vida?!
Ou o algoz de muitas vítimas?!

Daqui alcanço um sinaleiro
vivendo a sua vida, de acordo com seus estágios
Sempre os mesmos ciclos
Verde
Amarelo
Vermelho

Nossa vida é um grande sinaleiro
nós o somos
e somos regidos por essa lei maior.
Certos momentos temos o passe livre
e absolutamente tudo é nosso.
A terra, o ar, conspiram para nós.

De repente o sinal amarelo
Reduzimos a nossa caminhada
e entramos em questões como essas
Acho que refletimos muito mais nessa etapa
Até as crises existenciais certam nossa cabeça
Pensamos mais e poco fazemos...

Até o momento em que o vermelho chega...
Paramos
Paramos com o pensamento
e sobretudo com o agir.
Vagamos no vazio
Apanhamos na cara
e mesmo assim continuamos estagnados.
Inertes

E há chuvas, tempestades de areia, trovões
e nao há nada que possamos de fato fazer

Alguns chamam de maré de azar
eu prefiro dizer que
é só a hora do vermelho das nossas vidas...

Acabo o raciocínio
Procuro por mais alguma coisa
instigante para ocupar a minha mente
O vento que
dispara o alarme do carro
Os cachorros que latem e uivam ao longe...

Nada flui...

Procuro nao escrever sobre voce
romantismo não é
e nunca foi o meu forte
Escrever sobre putas, bebidas, bar e loucura
sempre me atraiu,
talvez porque nao fizessem tanta parte de mim...
talvez por nao me machucarem
e nao me enlouquecerem

E o ônibus passa
lotado
Cada pessoa é um mundo
Alguns são apenas meteoritos pequenos
esperando a oportunidade pra chocar com algum planeta
e simplesmente
foder com tudo...

Falando em planetas...
acho que o vazio que sentia há pouco
é a falta das estrelas
Esse tempo nublado
e o vento pós chuva
me deprime.

quinta-feira, 1 de março de 2012

Hábito de acostumar-se sem pensar

Quando o lixo entra na sua vida, assusta...
mas passa um tempo e você absorve tudo...
se acostuma com tudo
passa ser normal...
você também passa a ser um lixo...
e assusta as pessoas...
Mas passa um tempo e...

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Oscilação 
forte
dos sentidos
do sentir
do pensar
do repensar
e principalmente do humor

A traição da poesia

Como se eu tivesse muita coisa pra falar
tentei escrever 
e tentei, e tentei
Caí na contradição das minhas ideias
e emudeci
talvez eu nem quisesse exteriorizar nada
talvez eu tivesse o nada em mente
ou tivesse o tudo de mais
e pensei, e pensei
olhei no relogio,
o tempo nao passava
olhei para as pessoas,
elas andavam
andavam como se estivessem concentradas
em uma coisa que eu não pertencia
pensei em coisas absurdamente lógicas
e perdi o fio da meada
continuei pensando e fazendo rabiscos,
desenhos sem sentidos no canto do papel
esperando que a poesia falasse comigo
ao menos mandasse um maldito sinal
e, como um pirata azarado da sorte,
-perdido-
que espera ansioso a terra firme
Tudo que eu obtive foi
- o nada -
Chorei por dentro
E acabei chegando a conclusão que essa conexão é muito injusto e egoísta
Como uma deusa da beleza escolhe
criteriosamente seus pretendentes
O telefone
Só toca de lá pra cá...
e de cá pra lá
é uma dádiva somente para os outros deuses.



#choraosruins

Vergonha do ser/escrever

Escarrando palavras podres e fétidas
Percebo que poemas se formam...
Mas que verdadeiro caralho,
só saber escrever escórias.
Aí me dou conta que meu coração é o proprio vale das escumalhas...
e que realmente nada poderia ser diferente.

Poesia das Putas

Aquela ali é puta,
a da esquina é puta
a do primeiro banco, rezando o terço também

Aquela da saia curta, dos saltos altos, e do batom vermelho
com toda a minha certeza!
Uma admite, outra esconde,
e Lúcia, jura que não!
No fim todas são

Aquela diz que reserva suas vergonhas para um futuro promissor
Besteira!
A mais podre das mentiras!
Loiras, morenas, ruivas, brancas, negras, orientais
tudo puta!

E quantas Camilas, Jessicas, Larissas, Nathalias e Joanas...
E quantas putas!
E puta santa, puta safada, puta assumida, puta puta da puta que pariu.
Que cobram ou nao...
Gostam ou não...

E todas mulheres, todas meninas, todas princesas, todas marias...
Enfim, na amargura da loucura
Desejando serem desejadas

A ironia da velhice, e as pelancas, e a gordura...
E a carência depressiva...
E a morte da alegria -suicídio da alma
Tristeza parva,

E o mundo gira,
E outras putas surgem...
e as velhas sublimam, como se nunca tivessem existido
Para os homens, aqueles canalhas e cretinos...
Que sobrevivem e se alimentam dos seus instintos...

E tudo morre... e tudo passa...
Porque minhas historias
terminam sempre
com uma tragédia - verdadeira- e dramática.

No fundo toda bosta ja foi uma comida gostosa...

"No fundo, toda bosta ja foi uma comida gostosa...

É uma lógica muito boa e faz bastante sentido. Mas para você ver como a gente que fode. Culpa da digestão que nosso organismo faz hahaha
E você tá muito bukowski ou esses autores lixo que viviam podres no meio fio ou fodidos na calada da noite bebendo uma dose forte de qualquer coisa, maços e mais maços de cigarro e uma caneta escrota sobre um papel molhado pela bebida onde você tenta esconder as maiores perspicácias da mente. 

Me sentindo como se fosse uma poeta da segunda geração do romantismo... "Mal do século, boemia e cheia de vícios" vou começar escrever nos guardanapos engordurados, enquanto ainda bebada retiro os fiapos de frango do meu dente... boca podre, fedendo a cigarro, cachaça, risóles nada fresco do bar... paro, reflito um pouco, e peço um aperitivo de ovos de codorna, e continuo a observar, desejar e escrever... vou fazer isso sexta feira... motor breath, aguarde a minha decadência. 

Posso aparecer lá então!? Quero ver isso em uma banqueta ao seu lado, com total sobriedade. Os olhos da curiosidade repousam sobre a personificação da decadência. A criatividade ebulindo com os teus sentimentos de ruína.
Eu negaria os pedaços de frango, mas aprecio umas doses de bebida enquanto reclamo do cheiro forte de cigarro que fica impregnado por entre os dedos e na malha barata da camiseta.

O atendente com um olhar não muito amigável serve mais uma dose de bebida naquele copo enquanto a boca da garrafa começa a ficar mergulhada e refratada dentro da textura grossa daquela dose forte que não sabemos se é vodca, cachaça ou o mais puro álcool.
Não importa, cada gole, cada dose e cada palavra são formas de suportar algo muito maior, mais forte e mais pesado do que as presenças no bar ou a ressaca de um dia seguinte. 
E, quando voce sentar do meu lado, vou fazer questao que beba... e fique tao bebado quanto eu pra que desenvolvamos a sintonia da alegria forçada... começaremos a rir alto, falar alto e chamar atençao de todos que estiverem dentro daquele lugar... lamberei meus dedos, acenderei um cigarro, escreverei o começo e compartilharei com voce aquele papel imundo, com palavras imundas... Será a sua vez de escrever, o que lhe vier a mente... raivas, ódios, medos, alegrias, surpresas, até obviedades... e quando toda a criatividade se esgotar, ou se alguem interromper e interferir na nossa jogatina poética, lançaremos aquele papel no lixo, e voltaremos a conversar sobre as futilidades da vida, essas que a gente perde parte da vida correndo atras, se humilhando e sendo escravo... Te oferecerei um cigarro, e mesmo voce reclamando do cheiro insuportavel que fica entre os dedos, e da falta de ar que esse veneno te causa, voce vai aceitar... Observaremos a fumaça e os monstros que ela forma, provavelmente será tarde, te darei um longo abraço, e pegarei carona com um desconhecido.

Enquanto eu tomo o primeiro gole e você começa a chamar a atenção, eu acabo por te repreender, meio puto, gosto da discrição e sob a desculpa de ser teu amigo ambos não ficamos chateados com isso. A alegria não parece mais forçada depois de muito álcool.
Por causa de onde estou não conseguirei pensar muito e as únicas anotações que farei no papel serão sobre o local, alguma lembrança, um desgosto e uma raiva retida em torno do meu pai. Após você jogar o papel fora, eu, em segredo vou apanhar ele de novo, com um certo desdém pois ele já está recoberto de cinzas de cigarro, gordura e um pouco do pó que havia no chão. Você olhará para o relógio e dirá que está na hora de partir. Um pouco tomado pelo sono e da bebida eu concordo. Depois de um abraço seu, você pega carona com um desconhecido. Antes de você sair eu te falo para da próxima vez procurarmos um local com mais classe. Uma espelunca com classe. Você vai retrucar dizendo que espeluncas não precisam de classe, eu provavelmente diga que elas tem, mas a gente não nota. Você discorda novamente e ficamos por isso mesmo, a discussão não tem fundamento e levaria a lugar nenhum. Te peço mais um cigarro para acompanhar a volta para casa. Enquanto fumo ele e caminho por entre as acidentadas calçadas e nas pequenas poças que se formaram entre as pedras quebradas e o concreto sujo.Chafurdei nas minhas próprias ideias e notei que elas se tornaram meu maior vicio. As ideias e as palavras me são viciantes. Volto a mim e me dou conta da preocupação em torno da carona que você pegou, mas você é bem grandinha e supostamente deve saber o que faz.Durante o trecho até minha casa vejo algumas putas nas esquina fumando uma pedra de crack, já é fim de noite e a clientela já deve estar em casa para voltar a mais um dia de trabalho, em seus escritórios, cuidado de algum filho, vendendo algum titulo, arquitetando algum projeto. Passo apressado perto delas e evito a troca de olhares. Apalpo os bolsos em busca dos meus pertences; celular, carteira e chaves. Tudo aqui. Tiro as chave e brinco um pouco com elas e com o chaveiro, faço do último um anel no dedo indicador e fico girando-o como se eu tivesse grandes habilidades e me sinto o máximo por isso. 

Sempre soube que você adora estar escondido entre a multidão, e que chamar atenção nao faz o seu tipo... Mas há certos momentos na vida de uma mulher, que ela precisa disso... Ser vista e desejada... Ainda mais quando os anos vão passando e seu corpo está com a gordura acumulada de todos os anos, desde que nasceu... Principalmente quando surge aquelas princesinhas mais bonitas que você ja foi um dia... Se chama atenção pelo riso, pelo olhar, pela inteligencia, até mesmo por gargalhadas forçadas... No fundo, sei que faz parte do seu ciuminho 'paternal', dou uma risada interna aprovando a sua repreendida, abaixo o volume da minha vitrola... Observando sempre, aquele rapaz do canto direito, bebendo sua cerveja e esperando a próxima vítima... Nada sei, a respeito do seu pai, você é tao timido e guarda tantos segredos... Não que voce queira fazer o tipo misterioso, mas eu sinto a sua dor, de alguma forma... Eu nao forço, mas começo a imaginar os seus traumas... Imaginar você pequeno, aprendendo a falar, subindo na árvore, a sua primeira descoberta feminina, escondidos em algum comodo da casa de algum parente, provavelmente com alguma prima... Ah, infância... como passamos situações tão semelhantes... paro, e lembro me da minha... Quantos homens já chamei de pai... Paro, e sei que devo parar de pensar sobre isso... Mesmo sabendo que isso é irrelevante na minha vida de hoje, eu sei que o inconsciente não perdoa... Contos de família em uma pocilga de bar?! Tenha dó... Quando percebo, bendita visão periférica, o rapaz que citei, estava me olhando... retribuo o olhar e sem querer faço um sorriso de cachorra... Definitivamente nao sei só trocar olhares... o sorriso cretino é intrínseco nas minhas paqueradas... Me dou conta que ele gostou, observo em cima do balcão... Uma chave e um capacete... Possibilidade de conseguir carona... me animo e tomo mais um gole daquela dose nervosa... olho pra você, e você ainda esta escrevendo... Nao escreveu muito, até porque tudo isso aconteceu em menos de um minuto... 
Como o previsto, o rapaz nao se aguenta.

Sou uma das únicas mulheres solteiras e disponíveis no bar, pergunta meu nome, e começamos a conversar... aquele papo bem ridículo, mesclado com a timidez, vergonha e tudo que repreende a nossa fera interior... você já está sacudo, começa a me olhar torto, tento te incluir de todas as formas na nossa conversa... Voce nao aceita, porque nao é burro... Não tem mais idade pra perder tempo com esses papos sem sentido, e completamente desnecessários... voce e eu sabemos qual é o objetivo dele... Conversar e escrever poesia certamente que nao é... Peço licença pro rapaz, ambos olhamos o relógio... te dou o cigarro e um abraço... você segue apé... e eu ganhei uma carona de um completo desconhecido... Fico pensando na loucura que pode parecer... sorrio, e fico feliz por ser louca... Fico feliz por nao ter medo, e confiar nas pessoas intuitivamente... Ele me convida pra ir ao motel, eu já estou muito bebada, e mando me deixar em casa. Quando me dou conta, eu estou em casa, e com ele... Dou alguns beijos pra valer a noite, e, quando sinto que os hormonios começam a esquentar viro pro canto e durmo... Sou egoista e louca... E adoro. 

Uma unica coisa, me arrependo da noite, você foi com a intenção de ficar sóbrio e observar a minha decadência... Infelizmente ela tomou conta de voce também... nao sei se é a energia do ambiente, ou se no fundo você também estava precisando disso... pego o telefone pra re ligar, mas tenho certeza que você ainda está dormindo... Nao quero te incomodar... O equilíbrio é algo tão ingrato... voce pode morrer com suas fórmulas de reforma intima, seus segredos de como manter-se lúcido, tomar seus chás de camomila e todos os anti depressivos que você consiga receita... mas quando a vida resolve te derrubar, amigo... prepare-se ou aproveite... percebo que o rapaz foi embora... Nem pude agradecer a carona...






Texto feito em conjunto com Lucas Erichsen
http://www.saircaminhar.blogspot.com
E se a poesia apenas me visita em momentos de profunda tristeza
Acho que troco a minha felicidade
por palavras bonitas
e por alguns elogios sinceros
Guardo uma gota de felicidade sem poesia
para a putaria  nos finais de semana.

O viajante

"Quem chegou, ainda que apenas em certa medida, à liberdade da razão, não pode sentir-se sobre a Terra senão como andarilho — embora não como viajante em direção a um alvo último: pois este não há. Mas bem que ele quer ver e ter os olhos abertos para tudo o que propriamente se passa no mundo; por isso não pode prender seu coração com demasiada firmeza a nada de singular; tem de haver nele próprio algo de errante, que encontra sua alegria na mudança e na transitoriedade.

Sem dúvida sobrevêm a um tal homem noites más, em que ele está cansado e encontra fechada a porta da cidade que deveria oferecer-lhe pousada; talvez, além disso, como no Oriente, o deserto chegue até a porta, os animais de presa uivem ora mais longe ora mais perto, um vento mais forte se levante, ladrões lhe levem embora seus animais de tiro. E então que cai para ele a noite pavorosa, como um segundo deserto sobre o deserto, e seu coração se cansa da andança. Se então surge para ele o sol da manhã, incandescente como uma divindade da ira, se a cidade se abre, ele vê nos rostos dos quais aqui moram, talvez ainda mais deserto, sujeira, engano, insegurança, do que fora das portas — e o dia é quase pior que a noite.

Bem pode ser que isso aconteça às vezes ao andarilho; mas então vêm, como recompensa, as deliciosas manhãs de outras regiões e dias, em que já no alvorecer da luz ele vê, na névoa da montanha, os enxames de musas passarem dançando perto de si, em que mais tarde, quando ele, tranqüilo, no equilíbrio da alma de antes do meio-dia, passeia entre árvores, lhe são atiradas de suas frondes e dos recessos da folhagem somente coisas boas e claras, os presentes de todos aqueles espíritos livres, que na montanha, floresta e solidão estão em casa e que, iguais a ele, em sua maneira ora gaiata ora meditativa, são andarilhos e filósofos. Nascidos dos segredos da manhã, meditam sobre como pode o dia, entre a décima e a décima segunda badalada, ter um rosto tão puro, translúcido, transfiguradamente sereno: — buscam a filosofia de antes do meio-dia (da manhã)."

Tormentos Inesperados

... e pareceu-me ser uma pessoa bem resolvida, robusta, de personalidade edificada... Muito mais que em plena sanidade mental -sem exagerar- a lucidez personificada... 
Mas quando percebi, estava dentro de um tornado, no meio do mar furioso, próximo a uma ilha vulcânica em plena atividade tectônica.
Emoções, medos, traumas, fobias, obsessões, sentimentos e até mesmo um resquício de uma razão extremista... toda aquela inquietude esperando uma resposta, esperando uma ajuda, quem sabe o veneno, ou o alimento para todas aquelas feras do instinto aflorado.
Só então compreendi que quanto menos uma pessoa aparenta ser equilibrada, mais ela é... e que muitos olhos e muitos sorrisos mentem.
O problema está sempre no calar, e na calada da noite...
O problema está sempre no falar, e no falar de mais...
Então... quando os olhos se fecham e o estado do sono atinge o grau máximo da inconsciência
Só Deus e os anjos é quem sabem
E eu, em toda minha pequenez de vivência, roubei da vida uma sabedoria que
sempre me aparece como um cartaz de cinema:
"mentes perigosas mentem,
mentes perigosas são instáveis..."
Paro, inspiro
ironicamente penso
Ah, a instabilidade..